terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Entre a lua e São Paulo


Se imagine saindo de uma situação que partiu o seu coração. Você está sozinho superando uma série de dificuldades, com uma baita vontade de que o ano acabe logo pra zerar e deixar tudo pra trás de uma vez.


Nem pensa em ter ninguém, quer mais é o sossego de não ter alguém para partir deixando-o no vazio.

Se imagine então encontrando amigos, bebendo uísque em uma cobertura com uma vista estonteante da madrugada paulistana e um luar de fazer qualquer um querer uivar no telhado.

Se imagine agora encontrando um par de olhos que entram em você e não saem nunca mais.

Diz uma música... "se você está entre a lua e a cidade de Nova York, o melhor que você tem a fazer, é se apaixonar".

Nem mil Nova Yorks iluminadas deixariam a noite que eu descrevi mais bonita.
Entre a lua e São Paulo... o melhor que se tem a fazer é se apaixonar.
Levemente embriagado, entregue. Não há retorno.

Ah, a música...


BEST THAT YOU CAN DO - ARTHUR´S THEME - Cristopher Cross

(Vencedora do Oscar de Melhor Canção para o filme "Arthur, o milionário sedutor")


Finalmente você a encontra

Um alguém que realmente te toca

E quando você menos espera você está

Fazendo tudo por ela

Quando você acorda e aquela sensação continua

Mesmo tendo-a deixado do outro lado da cidade

Você se pergunta

"Afinal, o que foi que encontrei?"


Quando você se vê entre a lua e Nova York

Sei que parece loucura, mas é verdade

Se você ficar entre a lua e Nova York

A melhor coisa a fazer é se apaixonar.


Arthur faz o que mais lhe agrada

Em toda a sua vida pessoas escolheram por ele

Protegendo seu coração

"Ele é apenas um menino"

Vivendo sua vida aos poucos

E fazendo-se notar

Que lindo e bom tempo

Achando graça do que as pessoas queriam que ele fosse


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Feliz Natal


Natal. Adoro.


Mas pense bem. Nos reunimos ao redor de uma árvore morta, ou agonizando... quando não artificial. Ao seu pé vários pacotinhos com presentes não raro "made in China", fabricados por felizes criancinhas remuneradas com dois dólares por semana...


Depois, vamos todos para a mesa. Nela repousam pedaços de animais mortos. Aves, porcos... Mas também, frutas secas, doces... Todos confraternizamos, bebemos, e vamos dormir empanturrados, num sono inquieto, mas felizes.


Acordamos e iniciamos uma via sacra visitando parentes, ouvindo gracinhas sobre nossos quilos a mais, sobre nossos cabelos a menos. E seguimos.


Depois Ano Novo! O ritual se repete ainda mais animado, já todo mundo chutando o pau da barraca...


E chega janeiro, nossa calça favorita não entra, nosso décimo terceiro já se foi, chegam as faturas do cartão, caem os cheques pré...


E ainda assim amamos esta festividade. Um feliz Natal pra todos... Feliz Natal.


Obrigado Giovanna, pela inspiração!


Vaidade


Adoro quando curtem o que eu escrevo. Mas nem sempre curtem. Aliás... nem sempre é eufemismo. Qual a diferença entre "nem sempre" e "quase nunca"?


Não sou malhado nem belo. Minha vaidade mora na ponta de meus dedos... No teclado, note bem.


Resta continuar malhando... Uma hora fico saradinho.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sem Facebook...




Em sua mesa, Fernandes beberica seu uísque enquanto observa curioso o diálogo entre dois rapazes que bebem cerveja na mesa ao lado. Eles aparentam ter vinte anos, vinte e um no máximo, o que seria um terço de sua idade...

Edu - Iraaado Zeca, você perdeu... devia ter ido. Só eu peguei quatro!

Zeca - Aê Edu! Se você com essa cara de mané pegou quatro...
Edu - Coé, leke? Tá me estranhando? Mas e aê... por que não foi?

Zeca - Tu não vai acreditar... Fiquei sem internet... fiquei uns três dias sem entrar no Facebook, aí já era... Por que tu não me ligou?

Edu - Vacilão hein? Não tem grana pra lan house? Como eu ia saber que tu não tava com internet? Justo você...

Zeca - Pois é... Fico imaginando como esse povo que já passou dos sessenta se virava pra saber das paradas... As festas deviam ser bem mais vazias... Ou então neguinho passava dias no telefone chamando a galera... (ri)
Edu - Se liga... imagina! Mané ia dar a festa e saía distribuindo flyer "xerocado" (ambos riem, já bem alegrinhos por causa do chopp)

Nesse momento olham pra Fernandes, que também já mais sociável por conta do uísque diverte com os comentários... Os dois ficam meio sem graça. Fernandes levanta-se e vai até eles:

Fernandes - Falaí "leke"... Na minha época não tinha flyer... a gente distribuía panfleto, mas de protesto... E não tinha essa de Xerox... era tudo no mimeógrafo!

Edu e Zeca se olham meio sem graça, mas querendo rir.

Fernandes - Ah, e a propósito... a gente telefonava pra chamar pras festas sim... Mas no geral não precisava... A gente se encontrava no Posto 9, sacoé?

Nesse momento Fernandes vê Caetano Veloso entrando no restaurante e vai cumprimentá-lo.


sábado, 5 de dezembro de 2009

Atiraram no dramaturgo


Faz mais de dois meses que eu não posto nada no meu asteróide... Em meio a uma crise emocional e existencial, surgiu uma crise criativa, e tá aí... dois meses sem nem uma palavra.

O que me tirou desse torpor foi a notícia que eu acabo de receber... Um dos caras que eu mais admiro no cenário cultural paulista foi baleado esta madrugada durante uma tentativa de assalto no Espaço Parlapatões. Mario Bortolotto está internado em estado grave na Santa Casa após receber três tiros na região torácica.

Só para ter uma idéia de como isso me afeta, ele foi o cara que eu me mirei para criar este blog. Foi lendo o blog dele que eu tive finalmente a iniciativa de ter um blog (já tinha tentado antes sem êxito), e escrever textos mais livres. Sou seguidor do blog dele, curto mais até do que suas peças (que gosto também, mas conheço menos), e compartilhamos também uma admiração enorme por Jack Kerouac e tudo o mais que cerca o que convencionou-se de chamar literatura beat. Coincidência ou não, por volta de cinco da manhã eu estava navegando na web, quando acessei o orkut e resolvi mudar o meu "quem sou" para o seguinte texto : "um beatle, um bitolado, um beatnik". Foi mais ou menos a hora em que ele era baleado.

Estou triste, com medo e chocado. Conversei com a Cris agora que mora em cima do Espaço, e ela disse que ouviu a confusão... Mario não costuma levar desaforos, e àquelas alturas já devia ter tomado várias, acabou enfrentando os bandidos.

Onde a violência vai chegar? Sei que a cada nova notícia como essa que recebemos já é quase automático dizer esta frase inútil. Inútil como pagar nossos impostos, inútil como jogar nossos votos na lata de lixo eletrônica de tempos em tempos. Inútil como esperar que as autoridades tenham pulso para resolver os problemas, quando há tanto dinheiro para enfiar nos bolsos, cuecas e meias... no... deixa prá lá.

Só posso dizer que estou com muito medo, medo de que esse cara que eu admiro e esperava um dia conhecer se vá, no auge de sua força criativa. Ele atua, dirige, escreve peças, mantém seu blog e ainda tem uma banda. Mario, saia dessa por favor.

Essa foto ao lado eu tirei em maio, na virada cultural e o encontrei no mesmo Espaço Parlapatões, e já bem bêbado, cheguei até ele e falei "Fala Kerouac brasileiro! Tira uma foto comigo?". Ele deve ter me achado um babaca, mas tirou a foto, da qual me orgulho.
O último post no blog dele, irônicamente intitulado "Atire no Dramaturgo", tem a seguinte frase:
"E eu voltei pro bar. Quando ninguém mais acreditava que eu pudesse voltar. Eu tinha tudo pra não voltar, né? Mas eu sempre volto."