quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Um dia comum


Não deu para assistir " Hotel Lancaster ". Os ingressos estavam esgotados para hoje e amanhã. Mas eu consegui através da Cris, ingressos para amanhã, bem um dia que não sei se vou poder. Bom mas depois tem festa para ir. Morro da Urca, fui uma vez, muito bom. Se eu puder, vou aos dois eventos, se não puder... paciência.


O corpo tá reclamando. Hoje foram doze horas no trabalho, fora os trajetos de ir e vir. Fui ao mercado, entrei e, apesar do horário, tava uma fila demônia. Olhei desanimado... Quer saber, vou pra casa. Quero dormir, ver se chego cedo e adianto o meu lado, os prazos estão terminando e cada dia eu tenho uma novidade para atrasar o andamento do meu trabalho. Melhor não me estender.


Estava caminhando da minha tentativa frustrada de abastecimento básico, e pensei "trinta e quatro anos, o dobro de dezessete". Aliás, em menos de dois meses serão trinta e cinco. O que significa que quem nasceu quando eu estava quase prestando o vestibular, já está quase prestando o vestibular. Me preparei para ficar chocado e não fiquei. Hoje em dia muitos adolescentes têm metade da minha idade. Daqui a um pouco mais de um ano, muitos adultos terão metade da minha idade. Uma garota que estudou comigo tem uma filha adulta, o que tecnicamente significa que ela pode ser avó.


Eu sou tio-avô. "Ganhei esta caneta do meu tio-avô". A cena é um velhinho bonachão entregando uma lembrancinha a uma criança que preferia muito mais ganhar um carrinho.


Bom, ultimamente não presenteei ninguém, nem com caneta nem com carrinho.


Preciso ligar para minha família, meus afilhados. Quando vejo já está tarde.


Mas estou curtindo esta fase workaholic.


Esta semana um amigo meu está aqui com um grupo de estrangeiros. Mal consegui falar com ele. Uma amiga minha hoje me ligou só para dizer que não liga pelo fato de eu não ligar para ela.

Se eu não ando ligando nem para mim...


Tá chato isso hoje né? A impressão é que já fui mais criativo e interessante. Explico. Minha intenção hoje é escrever um dia da minha vida, como se fosse um diário. Nada demais, um dia comum.


Um dia comum em meio a tanta coisa incomum no mundo em que a gente vive. E no meu mundo particular. Ultimamente sou um asteróide sem rota definida. Nem música estou escutando agora para se ter uma idéia.


Mas é isso. Por hoje, findos os trabalhos. It´s been a hard day´s night.


Carpe noitem.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Estresse de final de ano




Todo mundo anda muito estressado. Vida moderna, isso aí! Final de ano, mudanças chegando, contas que não vão fechar, contas que vão abrir, onde vou passar o revéillon, meu Deus?

E aí, onde vai parar a cordialidade, o espírito de equipe? Se o meu trabalho sair a qualquer custo passando por cima do trabalho dos outros isso não vai me prejudicar também.

Imagine que você está sofrendo de gases, comeu algo que realmente não vai lhe fazer bem. Você está sozinho no elevador, dane-se. Lá se foi... só que assim que você abre a porta lembra-se que deixou as chaves do carro em casa ou o gás ligado (já que o assunto é esse mesmo...). Você volta, entra aperta o doze que é o seu andar (desculpa, Nando, mas seu verso aqui caiu muito bem), e o bendito elevador para no terceiro. Aquela mulher linda que você paquera há décadas faz menção de entrar, torce o nariz, olha para você com uma cara de nojo e finge ter esquecido algo também para não compartilhar a catinga com você. Pênalti.

Não adianta nada correr sem pensar no que vem atrás. A vítima pode ser você mesmo. Por isso nesta época sobretudo a gente tem que fazer um esforço maior para ver o outro... saber que todo mundo a priori dá o melhor de si. Tentemos pegar leve.


Pouco tempo. Muito a dizer.


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Será que consigo assistir "Hotel Lancaster"?


"O grito" - Edward Munch

"As sete vampiras" - Leo Jaime

"Glory Box" - Diverse Kunstnere

"I´ll never fall in love again" - Dionne Warwick

"For you" - Coldplay
"Mac Arthur Park" - Donna Summer

"I can´t help falling in love" - Elvis Presley

"She drives me crazy" - Fine Young Cannibals


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A anti-motorista de ônibus


O que mais estranhei quando cheguei ao Rio de Janeiro foi o transporte coletivo.
Minha vida inteira sempre andei de ônibus, aos oito anos pegava o Estação São Caetano a duas quadras da minha casa e descia em frente à escola, me sentindo um adulto.

Como até a idade de hoje nunca priorizei no meu orçamento um saving para comprar um automóvel, reuni uma considerável milhagem pelas catracas da vida. Nunca me incomodei muito, embora vez por outra um ônibus mais lotado ou um motorista de mau-humor fizessem com que eu amaldiçoasse os cd´s, os livros e as cervejas que sugavam meus recursos me impedindo de ter o suficiente para comprar um possante ainda que bem velhinho.

Pois bem. Mudei-me para a cidade maravilhosa. E foi na zona sul do Rio de Janeiro que eu adquiri um trauma de transporte coletivo que beira a neurose.

Já escapei uma centena de vezes de ser atropelado porque o motorista passa na outra faixa ignorando solenemente o rebanho que aguarda no ponto. São capazes até de buzinar dando tchauzinho. E entre perder a vida e o emprego numa sociedade como a nossa, a segunda opção pode ser pior pois a primeira ainda quitaria meu apartamento, e eu por diversas ocasiões me atirei por entre os carros entrando, à base de pancadas na porta, em um veículo guiado por criaturas que me diziam que "se parar em tudo o que é ponto não chego hoje no ponto final". Não sei se o que choca mais é o cidadão pensar isso realmente ou a cara de pau em assumir este pensamento.

Outra situação constrangedora é quando metros adiante do ponto onde você foi hediondamente abandonado, há um sinal que, alegria, fecha. Você sai ensandecido e arrependido de sua trajetória sedentária (desta vez o dinheiro da cerveja não importa, mas as horas que você deixa de se exercitar para bebê-la cobram seu tributo), na tentativa nem sempre bem sucedida de alcançar o alvo. Quando vitorioso e sem fôlego você entra, é com alívio e gratidão aos céus que você se joga na poltrona como se fosse uma jacuzzi morninha, e não tem pique nem para reclamar. Se, ao contrário, a besta-fera arranca dois segundos antes de você alcançá-la fazendo com que, num ato de desespero irracional você ainda grite para que o esperem (ainda que ouvissem...) a derrota e o vexame tomam conta de sua volta triunfal ao ponto onde durante mais meia hora você vai esperar pelo próximo algoz, mentalmente traçando uma estratégia para não deixá-lo passar e esboçando um e-mail para todos os meios de comunicação que você jamais enviará.

Sem contar as duas vezes em que o ônibus no qual eu estava bateu no veículo da frente. Na primeira vez eu peguei um táxi até o trabalho, e na segunda, dolorido da pancada entrei no próximo carro da mesma viação e linha (que quase bateu também no trajeto) depois de muito ter que brigar com o motorista que não queria me deixar subir sem pagar a passagem. Por sorte um dos fiscais da empresa, feliz por verificar que eu por conta de meu atraso seria um boletim de ocorrência a menos contra a empresa (que fiquei sabendo depois, pagou indenizações de até quatro mil reais às vítimas do acidente) me possibilitou a entrada.

É nesta realidade em que vivo, e é essa realidade que me fez ficar surpreso hoje ao voltar do Leblon para Copacabana. Vim de carona com uma amiga do trabalho até a Rua José Linhares, onde desci quase na esquina com a Ataulfo de Paiva. Vendo que meu ônibus estava parado no sinal, bati na porta que se abriu e entrei. A motorista, uma mulher gentilmente alertou que o sinal abriu e pediu que eu tomasse cuidado pois colocaria o veículo em movimento.

Só isso já me deixou espantado. No caminho a motorista viu uma vítima abandonada pelo ônibus da frente do nosso, parou no ponto, pediu que ele subisse, e ultrapassou o motorista insensível parando adiante de modo que ele não pudesse prosseguir e o feliz resgatado, que desceu agradecidíssimo, pudesse pegar o ônibus certo para o seu destino. No caminho, ela avisou um motorista de táxi que emparelhou conosco que a porta traseira de seu carro estava aberta. E ao contrário de seus colegas que param em fila dupla para o desembarque de passageiros colocando assim em risco suas vidas, parava no meio fio sempre, ainda que tivesse que avançar mais alguns metros por conta de veículos parados no ponto.

Pensei na possibilidade de as empresas só contratarem motoristas mulheres, uma vez que elas têm um instinto de preservação e proteção mais aguçados. Mas sei que isso é um pensamento que limita ao gênero uma característica que é do caráter. Há motoristas homens muito bons também. Esta alma boa que me conduziu até meu ponto em Copacabana, comentou com o cobrador que iria prestar no ano seguinte o vestibular para Faculdade de Rádio e TV ou Psicologia. Uma conquista para ela e uma grande perda para as ruas da cidade.

Pensei em mandar um e-mail para a viação elogiando a conduta da moça. Mas baseado pelo que eu vejo, ela deve ser uma exceção e eu na tentativa de ajudar poderia causar um prejuízo. Que ela passe no vestibular. Que mais motoristas como ela surjam por aí. Ou anti-motoristas. Ou anjos da guarda.

imagem - João Werner "Parada de Ônibus"
Hoodoo Gurus "Come Anytime"

domingo, 23 de novembro de 2008

Asteróides no espaço cibernético


A rede mundial é um mundo a parte, um cosmos.


E eu apesar de todo o meu interesse mas movido (o termo "mover" aqui é usado intencionalmente para acentuar ainda mais o paradoxo da afirmação) por uma monumental preguiça, e (des)motivado por tentativas mal sucedidas, vinha adiando há tempos a iniciativa de escrever um blog.


Cobranças de alguns, mas a cobrança maior vem de mim mesmo.


Agora posso me expressar na ilusão de que milhares de pessoas leiam o que escrevo, pelo menos está disponível para que milhares de pessoas leiam.


O ateróide é um corpo celeste assim chamado por assemelhar-se a uma estrela (quando visto da Terra, evidentemente). Pode também ser chamado de planetóide, por se assemelhar a um planeta, só que com dimensões infinitamente inferiores.


Mas um asteróide pode destruir um planeta. Ou mudar seu rumo para sempre.


Por isso estou aqui no espaço cibernético lançando mais um diminuto corpo celeste, que não se pretende uma estrela ou um planeta. Mas que sabe que carrega o poder da colisão ainda que não seja sua intenção destruir nada e nem mudar o rumo de nenhuma trajetória. Este é o poder da palavra, seja ela dita ou escrita. Imprevisível.


Nada mais do que palavras soltas no espaço cibernético. Aqui pretendo deixar impressões e recados, e vez por outra alguma historieta interessante.


Um abraço a quem dedicou o precioso tempo lendo estas. Espero que no decorrer do ano estelar e de outros anos-luz, haja interesse em voltar a essa órbita desajeitada que eu pretensiosamente começo a traçar.


André Briesi