Meu amigo,
Na franca ascenção de seu poder criativo, no topo de sua juventude, em pleno verão da existência... você partiu. Há mais de um ano que eu não o via, mas os nossos esporádicos encontros sempre foram repletos de alegrias, saudade represada, e vontade expressa de trabalharmos juntos um dia. Eu admirava o seu talento, e sabia que você enxergava algum em mim. Era uma admiração recíproca.
Agora, tão repentinamente você volta ao pó. Mas sua trajetória me marcou e marcou a muitos, muito mais do que a mim. Fica a saudade. A dor passa, eu sei, mas a lacuna fica, preenchida apenas por lembranças, que nem o tempo vai poder levar.
O tempo.
Eu queria ter tempo agora de abraçar todos os meus amigos, me deixar abraçar. Tudo é tão fugaz nessa vida, e ver um cara talentoso como o Ivan Kraut ter sua passagem aos 31 anos é no mínimo assustador. Eu não sabia que eu o perderia tão cedo. Queria poder dar mais um abraço. Não pude.
Quero abraçar todos os meus amigos, sempre a todo instante, com medo de que mais algum se vá. Quero abraçar aquelas pessoas vivas, mas distantes de mim. Quero abranger o tempo e o espaço para que ninguém mais ouse me deixar sem dar um tchau. E eu não quero dar tchau, para mais ninguém, quero que todos fiquem. Soa infantil, eu sei. É infantil. Sou infantil.
Vai meu amigo. Segue seu rumo agora em outro plano. Prefiro acreditar que você está começando uma linda jornada agora, e que um dia nos veremos de novo.
Para você eu reproduzo aqui o trecho final do meu primeiro (e até o momento único) conto, "Indecente". Leva meu abraço Ivan. Sua lembrança fica.
"Lá fora uma noite indecente. A luz do sol ainda tingia de vermelho o horizonte, e vermelho ainda era o licor da lua, derramado no firmamento. Tempo bom para um passeio.
Nem notou quando ela abriu a porta... Tentou ver-lhe o rosto. As pernas há alguns meses já imóveis o surpreenderam erguendo-o quando ela lhe estendeu a mão. Desligou-se dos tubos e dos aparelhos, estranhando o fato de respirar tão bem. Foi então que viu a face dela. "Engraçado" – pensou – "Os grandes momentos da minha vida acontecem quando estou ao lado de uma mulher indecente de linda..."
E foram embora, sem olhar para trás. " (escrito em 2005, no Rio de Janeiro)
Nem notou quando ela abriu a porta... Tentou ver-lhe o rosto. As pernas há alguns meses já imóveis o surpreenderam erguendo-o quando ela lhe estendeu a mão. Desligou-se dos tubos e dos aparelhos, estranhando o fato de respirar tão bem. Foi então que viu a face dela. "Engraçado" – pensou – "Os grandes momentos da minha vida acontecem quando estou ao lado de uma mulher indecente de linda..."
E foram embora, sem olhar para trás. " (escrito em 2005, no Rio de Janeiro)
2 comentários:
Glupt!
estamos juntos, querido! Fica com deus!
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