quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ao amigo que se foi...

Meu amigo,

Na franca ascenção de seu poder criativo, no topo de sua juventude, em pleno verão da existência... você partiu. Há mais de um ano que eu não o via, mas os nossos esporádicos encontros sempre foram repletos de alegrias, saudade represada, e vontade expressa de trabalharmos juntos um dia. Eu admirava o seu talento, e sabia que você enxergava algum em mim. Era uma admiração recíproca.

Agora, tão repentinamente você volta ao pó. Mas sua trajetória me marcou e marcou a muitos, muito mais do que a mim. Fica a saudade. A dor passa, eu sei, mas a lacuna fica, preenchida apenas por lembranças, que nem o tempo vai poder levar.

O tempo.

Eu queria ter tempo agora de abraçar todos os meus amigos, me deixar abraçar. Tudo é tão fugaz nessa vida, e ver um cara talentoso como o Ivan Kraut ter sua passagem aos 31 anos é no mínimo assustador. Eu não sabia que eu o perderia tão cedo. Queria poder dar mais um abraço. Não pude.

Quero abraçar todos os meus amigos, sempre a todo instante, com medo de que mais algum se vá. Quero abraçar aquelas pessoas vivas, mas distantes de mim. Quero abranger o tempo e o espaço para que ninguém mais ouse me deixar sem dar um tchau. E eu não quero dar tchau, para mais ninguém, quero que todos fiquem. Soa infantil, eu sei. É infantil. Sou infantil.

Vai meu amigo. Segue seu rumo agora em outro plano. Prefiro acreditar que você está começando uma linda jornada agora, e que um dia nos veremos de novo.

Para você eu reproduzo aqui o trecho final do meu primeiro (e até o momento único) conto, "Indecente". Leva meu abraço Ivan. Sua lembrança fica.

"Lá fora uma noite indecente. A luz do sol ainda tingia de vermelho o horizonte, e vermelho ainda era o licor da lua, derramado no firmamento. Tempo bom para um passeio.

Nem notou quando ela abriu a porta... Tentou ver-lhe o rosto. As pernas há alguns meses já imóveis o surpreenderam erguendo-o quando ela lhe estendeu a mão. Desligou-se dos tubos e dos aparelhos, estranhando o fato de respirar tão bem. Foi então que viu a face dela. "Engraçado" – pensou – "Os grandes momentos da minha vida acontecem quando estou ao lado de uma mulher indecente de linda..."

E foram embora, sem olhar para trás. "
(escrito em 2005, no Rio de Janeiro)

2 comentários:

estouporai disse...

Glupt!

Alexandre disse...

estamos juntos, querido! Fica com deus!