quinta-feira, 9 de julho de 2009


Começando. Terceiro dia de atividade física, já não é tão difícil levantar da cama. O ritual do café da manhã, na mais completa solidão tem um efeito terapêutico. Andava esquecido do que era estar só. Não que nos meus últimos meses eu tenha tido tanta companhia, mas uma coisa é estar só e ansioso, triste até, esperando por alguém que não chega. Outra coisa, e é disto que eu estou falando, é aquela solidão que inspira, leva à reflexão.

Café tomado, protetor solar, ânimo satisfatório e lá vou eu.

Copacabana é linda. Caminhando antes das oito da manhã o que se vê é um desfile de personagens e histórias (todas supostas por mim, óbvio) que dariam para encher páginas. Nesta hora ainda jovem caminham as pessoas que dormem cedo, que trabalham cedo, e que têm uma preocupação mais profunda do que apenas manter um corpo atraente e bronzeado.

No Leme um grupo de senhoras (a mais jovem aparentava uns sessenta e cinco anos) realizam uma estranha movimentação que aos poucos adivinho ser uma espécie de ginástica. Observando bem, localizo a líder ou professora, que é quem faz primeiro os movimentos. Depois as outras repetem, cada uma a seu modo, usando aquela liberdade que só tem quem já não se importa com quem olha, e fica uma linda confusão de cabelinhos beges, roxos e brancos adornada por bracinhos frágeis cobertos por malhas finas a moverem-se livremente, cada uma imaginando estar seguindo à risca os movimentos propostos. Sou tomado por uma onda de carinho, e por pouco não corro a abraça-las, eu mesmo saudoso de minha mamacita, que também tem uma coroa branca de sabedoria...

Passo adiante, ainda enternecido e observo uma mulher, moradora de rua sentada no banco do calçadão, a ler atentamente uma brochura, destas de banca no formato “paperback”. Curioso de saber do que se trata, mas com o alcance limitado da vista, nada posso fazer a não ser imaginar que esta senhora de figura triste, talvez aparentando bem mais idade do que deveras tenha, esteja lendo “Irmãos Karamazov”, ou “No coração das trevas”... Confesso que não me surpreenderia, tenho certeza de que na rua vivem literatos e intelectuais verdadeiros, que cansado da hipocrisia mundana, simplesmente se retiraram desta “festa pobre”, e foram desfrutar da infinita liberdade de não serem mais ninguém a não ser eles mesmos...

Muita viagem. Mas não deixa de ser uma visão romântica da pobreza absoluta.

Hora de correr, e aí a observação cede o espaço para a verdadeira reflexão. Lista de coisas a fazer, comprar um pen drive, uma cueca, aproveitar que é quinta e ir à feira (e comprar mais do que apenas tomates), carregar músicas no MP3 player que, aliás, fiz o favor de esquecer.

No mais penso no futuro imediato, nos dias que se aproximam, planos, sonhos... Este último item aliás é a minha perdição. Sonhar é bom, mas caramba, vamos combinar que eu ando exagerando na medida a ponto de esquecer tudo o que é necessário ser feito para que pelo menos o mais simples destes desejos se realize... Nota a tomar: colocar o pé no chão, para aí sim conseguir voar...

Terminada a corridinha, bebo um iogurte batido com ameixa no Bibi pelo qual me cobram a exorbitância de seis reais, e sigo adiante.

Amanhã terei mais caminhada, mas salvo apareça alguma coisa digna de nota prometo escrever sobre outro assunto.

O set list de hoje é o barulho do tráfego na Barata Ribeiro e um ou outro som que chega da feira da rua em frente à minha janela.

Baccio!

Um comentário:

Unknown disse...

priiiimo! eu tenho a mesma visão romântica da pobreza absoluta!!
Será que um dia estarei na sarjeta lendo Ulysses??